Um Baiano no Círio de Nazaré

Por: Humberto Diniz

Se diz na Bahia-“Sagrado e profano, o baiano é Carnaval”. Mas, sendo casado com uma paraense, o Círio passou a fazer parte de minha vida, assim como as homenagens a Nossa Senhora de Nazaré.


Estima-se que 2 milhões de pessoas participem anualmente das celebrações do Círio. Com tamanha aglomeração de pessoas nas ruas, não pude evitar a comparação com o carnaval de Salvador. Muita gente reunida, festa e celebração por toda cidade, muito sol e calor. Mas qualquer analogia deve parar aqui. O Círio é um carnaval de Fé, da mais pura e forte fé, capaz de fazer uma multidão de promesseiros se agarrarem durante horas à corda que traz a Santa, num martírio que mistura de dor e êxtase, e que muitas vezes os faz perder a consciência, precisando ser carregados por voluntários.


A maioria dos promesseiros anda descalça, principalmente na corda, onde o uso de calçado é proibido para não machucar o próximo. Muitos acompanham a procissão trazendo consigo objetos representando suas promessas: miniaturas de casas, barcos, e igrejas feitos em mirití, madeira típica da região, tijolos em cerâmica, pedaços do corpo feito em cera, cruz de madeira.

Junto aos que padecem na corda, seguem amigos e voluntários, dando força, água e alimentos, que muitas vezes são oferecidos por outros promesseiros. Ajudam também a diminuir o calor, abanando. Dão palavras de consolo e motivação, fazem trilhas de papelão para os que andam de joelho no asfalto, carregam os que desmaiam devido ao cansaço.

Apesar da aglomeração na cidade, toda a festa é bem tranquila, pois as pessoas procuram apenas venerar a padroeira, cumprir suas promessas, e se divertir. Nos dois anos que estive presente, vi segurança e tranquilidade.



Existe também uma parte “profana” na festa, na qual me sinto em casa. O grupo folclórico Arraial do Pavulagem, após reverenciar a Santa na sua chegada na Estação das Docas, segue em direção a Praça do Carmo, com muita alegria, ao som de músicas da região. O grupo promove uma grande festa na praça, ajudando a manter tradições culturais da Amazônia.

A época também é considerada o Natal dos Paraenses. É tempo de reunir familiares e amigos em torno de uma boa mesa, de celebrar, degustando uma boa maniçoba, e um pato no tucupi. Sem esquecer, claro, do açaí na sobremesa.

De fato, é uma festa impar, tanto em proporções, quanto em demonstrações de fé. Uma emoção indescritível.

Viva Nossa Senhora de Nazaré!  Viva!  Viva!  Viva!



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2 comentários:

  1. Era preciso um baiano conhecer a devoção que os paraenses tem por sua Santa Padroeira para retratar o sentimento que existe neste povo e descobrir o verdadeiro significado de amor, parabens Humberto pelas lindas fotos e palavras sobre o nosso círio.
    Paulo Acatauassú

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  2. Humberto,

    Retratar tamanho sentimento e emoção numa manifestação de pura fé, é realmente difícil, mas você conseguiu perpetuar através das belas fotos e do texto escrito com precisão e delicadeza, todo o "clima" de comoção vivido nas homenagens a Nossa Senhora de Nazaré.

    Leyla Albán

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